segunda-feira, 11 de março de 2013

Guia Para Um Final Feliz


Título: Guia Para Um Final Feliz
Autor: Matthew Quick
Editora: Editorial Presença
Tradução: António Infante e Miguel Romeira
288, capa mole

Classificação: **** (4/5)


Se não fosse o burburinho gerado pelos Óscares provavelmente não teria escolhido este livro para ler, à primeira vista parecia apenas mais um romance leve bem comum. No entanto é mais do que isso, tem um humor bastante peculiar e personagens diferentes e interessantes.
Pat Peoples, o narrador, acaba de sair da instituição psiquiátrica onde esteve quatro anos devido a um trauma grave, sem memória dos acontecimentos que o levaram ao internamento nem dos últimos anos Pat acredita que a sua missão na vida é autoaperfeiçoar-se a todos os níveis. Se conseguir atingir a perfeição a nível físico, emocional e intelectual ele acredita que será recompensado com o final feliz que tanto quer, o regresso da sua mulher. 
Acompanhamos então o regresso de Pat à normalidade, a sua verdadeira obsessão para recuperar a esposa e a luta por conseguir alguma sanidade mental. Ele terá que lidar com uma mãe superprotectora, e um pai muito pouco comunicativo cujo humor depende dos resultados da sua equipa de futebol do coração, com o reatar de relações com o irmão e amigos e tornar-se de novo um membro normal da sociedade. Pat irá também fazer novas amizades, a sua vizinha Tiffany igualmente mentalmente perturbada, irá ter um papel preponderante para Pat retomar a sua vida. 
Devido ás características psicológicas do narrador este romance é muito interessante de acompanhar, fortemente marcado pela obsessão mas também pela optimismo, esperança e amor leva o leitor a torcer pela felicidade de Pat e envolver-se na sua história. 
Tem também um certo mistério: não sabemos qual foi o acontecimento traumático que levou ao seu internamento nem a razão do total afastamento da mulher, mas queremos descobrir a todo o custo, o que me levou a devorar capítulos e capítulos sem descanso. 
Para quem gosta de livros este história tem pormenores interessantes, como parte da missão de autoaperfeiçoamento Pat decide ler todos os livros de leitura obrigatória das aulas de Inglês que a sua mulher lecciona: O Grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald), Adeus Às Armas (Ernest Hemingway), O Apanhador no Campo de Centeio (J.D.Salinger), As Aventuras de Huckleberry Finn (Mark Twain) e A Redoma de Vidro (Sylvia Plath). As suas críticas e impressões sobre estes livros são muito honestas e divertidas de ler, ele leva certos acontecimentos dos livros como afrontas pessoais e não se coíbe de o demonstrar. 
Em suma este é um livro bem construído, com algumas surpresas e temas contemporâneos e com uma mensagem de esperança e optimismo que podemos transportar para as nossas vidas. Certamente irá agradar a apreciadores de romances.
A adaptação cinematográfica apresenta algumas diferenças em relação ao livro, existem algumas diferenças nas relações entre personagens, acontecimentos importantes e desde o princípio sabemos o que levou ao colapso mental de Pat o que estraga um pouco o suspense. Apesar de manter o mesmo "espírito" e de estar na minha opinião bem conseguida recomendo que leiam primeiro o livro.




terça-feira, 5 de março de 2013

Blankets


Título: Blankets
Autor: Craig Thompson
Editora: Devir/ Biblioteca de Alice
592 páginas, capa dura

Classificação: ***** (5/5)

Diálogos, silêncios, padrões e ilustrações a preto e branco conseguem compor esta história de descoberta e crescimento. 
Esta é uma graphic novel de inspiração autobiográfica que relata episódios da infância e adolescência de Craig: a sua relação com o irmão, com os país católicos fervorosos, com a fé, a necessidade de evasão e o seu primeiro amor e a criação de uma identidade própria.
Acompanhamos Craig numa viagem desde os seus tempos de criança e à partilha da cama com o seu irmão Phill até à entrada na idade adulta. Pelo meio as inseguranças, dúvidas, emoções, conflitos e descobertas do processo de se tornar adulto contadas com uma certa melancolia e muita sensibilidade e delicadeza. Talvez a facilidade de o leitor se identificar com  as emoções vividas por Craig torne a leitura tão envolvente, mesmo que não tenhamos sido educados da mesma forma que ele e vivido as mesmas experiências, certas emoções são universais.
Para mim um dos principais temas do livro é a relação de Craig com a religião, os conflitos vividos entre a fé fervorosa dos seus pais e de quem o rodeia e a sua própria fé, ou falta dela, a necessidade de questionar e os ensinamentos com que foi criado e os sentimentos de culpa e dúvida que o atormentam. Surge desde cedo a necessidade de evasão, o prazer de ultrapassar os seus limites através do desenho que Craig começa por negar a si próprio. 

Outro é a descoberta do amor. Craig conhece Raina num acampamento católico e o seu amor é correspondido, o tímido e solitário rapaz conhece a descontraída e maternal rapariga apaixonam-se. Surgem as primeiras descobertas, dúvidas e desejos. Raina lida com uma série de problemas pessoais que também influenciam o desenvolvimento da relação de ambos. Os momentos com Raina dominam a maior parte do livro e são plenos de emoção, inocência e delicadeza. 



É ela, sua musa, que oferece a Craig uma manta de retalhos que fez, que para mim simboliza de certa forma a vida e a construção de uma identidade, todos os diferentes pedaços de tecido diferentes são as pessoas, sentimentos e vivências que constroem uma identidade.
O final é um pouco agridoce mas apesar de tudo necessário e promissor. 
Adorei a construção da história, a maneira como os desenhos conseguem transmitir tão bem sentimentos complexos e muito pessoais sem serem sequer necessárias palavras sendo ao mesmo tempo tão bonitos de observar. É um livro de uma extrema sensibilidade, que apela ao sentimento e que nos atinge de forma pessoal pela sua delicadeza, honestidade e beleza. Recomendo a qualquer pessoa que não tenha um bloco de gelo no lugar do coração. 

"Como é gratificante deixar uma marca numa superfície branca. Desenhar um mapa do meu movimento - não importa quão temporário."
Blankets, Craig Thompson








   

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Anatomia dos Mártires


Título: Anatomia dos Mártires
Autor: João Tordo
Editora: D.Quixote
272 páginas, capa mole

Classificação: ***** (5/5)

Não tenho por hábito ler muitos autores portugueses contemporâneos, João Tordo prova que provavelmente o devia fazer mais vezes. 
Esta é uma história narrada por um jornalista português jovem, um tanto solitário e pouco reconhecido pelo seu irascível editor.  Depois de o acompanhar  numa estranha viagem à terra de Catarina Eufémia é destacado para entrevistar o biógrafo de um suicida/mártir religioso cujo livro nem sequer leu. O artigo que escreve revela ter consequências inesperadas, tendo misturado a história do homem que saltou de um prédio com um manuscrito ao peito, Catarina Eufémia, a camponesa que se tornou um dos símbolos do partido comunista ao ser assassinada pela GNR durante a ditadura, e alguns outros mártires, gera reacções bastante aguerridas e ameaçadoras. Parece até que o jornalista tocou  em assuntos proibidos. Surpreendentemente o seu editor, comunista ferrenho, defende o artigo e certa noite é espancado e encontrado em coma na rua.
O jornalista pergunta-se se a culpa não será sua, tendo escrito o artigo de ânimo leve e sem grande pesquisa, embrenha-se numa investigação obsessiva da vida de Catarina Eufémia. À medida que fica absorvido pelo verdadeiro significado do martírio de Catarina Eufémia e a usurpação de uma identidade própria a sua vida pessoal vai sofrendo com esta obsessão. 
Conturbadas relações amorosas, um pai mentalmente instável com a morte da sua companheira de toda a vida e o início de uma crise económica são realidades que se cruzam com a ficção e com a história que o absorve. No final do livro o jornalista afirma querer escrever um romance:
"(...) é um romance sobre Catarina, mas mais do que isso, é um romance sobre as nossas vidas, nós que, tal como ela, fomos apoderados pelo tempo e pelo dinheiro e pelo amor e pela própria morte, nós que sem o sabermos também temos razão e também iremos fracassar, nós que carregamos as bandeiras de todos os partidos e de todas as religiões e de todas e ideologias e de cada recanto de cada província de cada país; nós que á nossa maneira tosca e provinciana, decidimos desafiar a realidade na nossa frieza, na sua indiferença e na sua crueldade e caímos num rol de equívocos cujos fios invisíveis e emaranhados só conseguiremos destrinçar quando alguém escrever a nossa história: é essa a minha missão, digo-lhe."
De certa forma define a realidade que vive e a sua narrativa, ele que também foi apoderado por uma obsessão e pelas circunstâncias reais.
Esta não foi uma leitura que fiz de uma assentada, compulsivamente, é um livro um pouco mais exigente e que exige um pouco de reflexão e tempo. Gostei muito da escrita do autor, das suas descrições e reflexões sobre momentos quotidianos, sobre relações, perdas e sobre a realidade e a influência de história no tempo presente e na identidade de um povo. O tema do martírio, da futilidade ou não de um sacrifício para defender uma ideologia e da verdadeira identidade de um mártir, que ao fim ao cabo se torna mais um símbolo que de uma pessoa real, que absorve o narrador e dá título ao livro é muito diferente de qualquer um que já tenha visto ser abordado. 
Fiquei deveras impressionada com a escrita deste autor neste livro, já tinha lido e apreciado "O Bom Inverno" mas esta história cativou-me muito mais talvez por ter conseguido relacionar-me com o personagem principal e pela história se passar em Portugal no tempo presente. Seguramente irei ler outros títulos de João Tordo e recomendo esta obra a quem quer que procure um bom livro. 




quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Em Parte Incerta


Título: Em Parte Incerta
Autor: Gillian Flynn
Editora: Bertrand Editores
Tradução: Fernanda Oliveira
519 páginas, capa mole

Classificação: **** (4/5)

Amy desaparece no 5º aniversário do seu casamento, a suspeitas recaem imediatamente sobre o seu marido Nick que apresenta comportamentos muito suspeitos. Mas será ele um assassino? Ao longo do livro vamos acompanhar o relato da mulher desaparecida e do seu marido, dois pontos de vista diferentes e muito pouco isentos... 
As duas histórias vão sendo intercaladas: Nick começa a sua narrativa no dia do desaparecimento de Amy e o diário de Amy começa no dia do primeiro encontro dos dois. 
O mote do livro, mais do que um simples caso de detectives em que tentamos encaixar as pistas é: Será que conhecemos realmente quem dorme ao nosso lado? 
Este é um livro que nos faz passar madrugadas a ler, é uma leitura fluída e bem arquitectada com toques de humor negro. O foco central da trama são realmente as personagens, ao longo do livro podemos compor o retrato psicológico dos dois narradores. São personagens complexas e muito interessantes, que escapam à simples classificação de boas ou más. Este thriller tem também temas bem contemporâneos: um casamento que tem que lidar com perdas de emprego, dívidas, doenças na famílias, expectativas elevadas. 
É extremamente rico em reviravoltas no enredo e acontecimentos inesperados que fazem o leitor questionar-se repetidamente sobre o que estará por vir, posso dizer que o final me surpreendeu bastante. 
É uma leitura realmente cativante e intrigante que certamente irá agradar a apreciadores do género e a curiosos sobre a natureza humana.






sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Deus Das Moscas



Título: O Deus Das Moscas
Autor: William Golding
Editora: Leya (colecção BIS)
Tradução: Manuel Marques
 240 páginas, capa mole

Classificação: **** (4/5)

Um grupo de rapazes encontra-se sozinho numa ilha deserta depois da queda de um avião. Uma ilha com água e comida abundantes, clima agradável e nenhum adulto à vista. Estas seriam as condições ideais para aventuras divertidas em liberdade total, o que não é de todo o caso. 
Se ao início tentam comportar-se civilizadamente, ateando um fogo para que a sua presença seja notada e possam ser salvos e seguindo regras de conduta e dividindo tarefas depressa se vão dividindo e desleixando e começam a cair na selvajaria, caçando desordenadamente e desprezando qualquer sentido de ordem e bom senso. Ao mesmo tempo surge uma ameaça desconhecida que começa a instigar o medo no coração destas crianças.
Este é um livro sobre a natureza humana, e a facilidade com que é corrompida, a civilização e também sobre a perda da inocência. 
As principais personagens são Ralph, eleito líder do grupo no início do livro é uma personagem muito interessante e muito real, mais complexa que o resto dos seus companheiros. Há também que destacar Piggy, o seu fiel companheiro, extremamente inteligente mas não respeitado pelo outros devido ao seu físico. Jack, que quer para si o poder e influencia os rapazes na selvajaria e Simon, sensível e o único que conhece a verdadeira identidade do monstro. 
Esta é uma narrativa repleta de acontecimentos para tão poucas páginas e com personagens que não se esquecem facilmente. A narração na terceira pessoa e apresentando a perspectiva de várias personagens permite-nos ter uma visão mais ampla dos acontecimentos. Gostei bastante das descrições e do simbolismo do livro e da maneira como a atmosfera se vai tornando mais e mais pesada até aos acontecimentos trágicos da história. No entanto achei o final um pouco abrupto, foi-se criando uma tensão imensa que depois se desfaz em meia dúzia de parágrafos. 
Este é uma história aparentemente simples até porque as personagens são crianças mas que levanta questões importantes no campo da sociologia e da psicologia que nos fazem pensar. A facilidade da corrupção da estrutura da civilização quando em circunstâncias de isolamento, a maneira como a consciência individual se dilui em grupo e a facilidade de justificação de actos bárbaros em determinados contextos são alguns temas abordados no livro.
Penso que este livro pode ser apreciado tanto por adultos como pelos mais jovens e recomendo vivamente a sua leitura. 




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A Laranja Mecânica


Título: A laranja mecânica
Autor: Anthony Burgess
Editora: Alfaguara
Tradução: Vasco Gato
337 páginas, capa mole

Classificação: **** (4/5)

-Então e agora, hum?

É assim que começa a história de Alex, que se eu tivesse de definir numa palavra seria perturbadora. Alex é um jovem de 15 anos que vibra com música clássica e é o líder carismático do seu grupo de  drugos (amigos) que, como os jovens da sua época, se divertem consumindo drogas, lutando, roubando, violando e espancando os habitantes de uma Londres algures no futuro.
Nesta história dividida em três partes e narrada na primeira pessoa Alex irá descrever, usando o nadsate, ou seja uma gíria própria da juventude da época, os seus actos criminosos, a sua prisão e posterior reeducação ao abrigo do inovador programa governamental  "Ludovico" que promete fazer dele um bom rapaz e por último a sua vida após esse programa. 
Apesar das múltiplas cenas de violência este não é um livro sobre a violência por si só mas sim sobre  o liberdade arbítrio que nos define (ou não) enquanto humanos e a própria natureza do ser humano: seremos intrinsecamente bons ou maus? 
Alex acredita ser mau, não ter escolhido ser mau mas ser intrinsecamente mau. Diverte-se e tem prazer com o sofrimento alheio e nunca sente qualquer tipo de remorsos sobre os actos praticados. Após ir para a prisão não se torna menos violento, aliás é como se a violência estivesse institucionalizada e por isso o seu comportamento mantém-se. 
Ele será a cobaia de um novo programa governamental, que promete transformar criminosos violentíssimos em cidadãos exemplares, incapazes de más acções. Este programa baseia-se na terapia da aversão, ou seja, associar um estímulo muito negativo a imagens de violência extrema de modo a que sempre que Alex se sentisse tentado a praticar actos de violência ele tivesse uma reacção física muito intensa que o impedisse. O nosso "humilde" narrador torna-se assim incapaz de cometer más acções, sendo impelido a praticar boas acções de modo a evitar as consequências nefastas. Alex torna-se assim uma pessoa boa, não por livre escolha mas sim por incapacidade de ser mau.  
Depois desta perda de identidade ele será um instrumento nas mãos da oposição política, que se opõe tanto ao programa Ludovico como a outras medidas do governo que incluem uma força policial violentíssima para manter a ordem.  
O último capítulo, que foi eliminado das primeiras edições deste livro mostra afinal em que tipo de pessoa é que Alex se tornou...
Esta é uma leitura um pouco estranha e exigente, devido ao dialecto utilizado, que no original é uma mistura entre russo e calão rimado inglês, que me levou a uma consulta compulsiva do glossário durante as primeiras dezenas de páginas do livro, mas que penso que atenua um pouco a natureza gráfica que as descrições de violência poderiam ter. O narrador vai sempre utilizando um tom um pouco irónico, exagerado e até cómico ao longo da história. Apesar disso é um livro muito original e interessante devido ao dilemas éticos que levanta: será aceitável o governo condicionar o comportamento dos cidadãos? Até mesmo para transformar os bons em maus? E quais serão as consequências desse condicionamento? 
Nesta edição especial de 50ª aniversário o trabalho de tradução realizado é francamente notável, também inclui alguns extras como reproduções de algumas páginas do texto original, ensaios, artigos e críticas, notas ao texto e o indispensável glossário de Nadsate. 
Recomendo vivamente esta obra a qualquer leitor que goste de distopias e que queira ler algo verdadeiramente original (e que de preferência não seja facilmente impressionável).
Não poderia também deixar de referir a famosíssima adaptação cinematográfica desta obra por Stanley Kubrick, que apesar de apresentar algumas diferenças em relação ao livro vale muito a pena. 


  





domingo, 3 de fevereiro de 2013

Mockingjay (The Hunger Games #3)


Título: Mockingjay (The Hunger Games Trilogy Volume 3)
Autor: Suzanne Collins
Editora: Scholastic
Versão original em inglês
455 páginas, capa mole

Classificação: *** (3/5)

Terceiro e último livro da trilogia Jogos da Fome. Depois do final do segundo livro estava curiosíssima para saber o rumo que a história iria tomar. Katniss e alguns outros são resgatados da arena da edição especial dos Jogos da Fome em que antigos vencedores de cada distrito participam. Ela é levada para o distrito 13, que se pensava ter sido destruído mas que afinal é o centro das forças rebeldes que pretendem destruir o actual governo. A protagonista torna-se o símbolo da rebelião ao mesmo tempo que tenta preservar a própria vida e resgatar Peeta que ficou nas mãos do governo. 
Este é um livro mais pesado que os anteriores, onde se mostram os horrores de uma guerra que traz baixas para qualquer um dos lados.
Como no livro anterior o começo é lento e pouco rico em acontecimentos, a protagonista perdeu alguma da sua intensidade e parece ser um mero fantoche nas mãos dos rebeldes. No entanto existem outros personagens que ganham maior profundidade e interesse, tal como a sua irmão Prim e o terceiro elemento do triângulo amoroso, Gale. 
À medida que a narrativa avança vai sendo cada vez mais interessante acompanhar os jogos de poder que se vão desenrolando, as estratégias tanto do Capitólio como dos Rebeldes são muito engenhosas e também bastante cruéis. Mais uma vez o triângulo amoroso não parece ser muito bem desenvolvido, Katniss parece ter sempre as mesmas dúvidas e as mesmas discussões chegando a tornar-se bastante insegura. Peeta tem um percurso bem mais interessante ao longo da história apesar de não ser propriamente o protagonista nem o desencadeador de muitos acontecimentos. 
Nota-se a intenção da autora de chocar os leitores ao narrar alguns episódio de guerra, no entanto certos acontecimentos parecem demasiado forçados e despropositados.
O final é surpreendente ainda que não totalmente inesperado se nos formos concentrando mais no comportamento de certos personagens secundários. Finalmente o triângulo amoroso é resolvido de uma forma um pouco desajeitada, depois de páginas e páginas de dúvidas nem nos damos conta das motivações da escolha da protagonista. Um dos aspectos que menos gostei foi o epílogo, que me pareceu muito despropositado, pouco original nada consoante a personalidade da protagonista.
Avaliando a totalidade da trilogia posso dizer que gostei e que valeu a pena a leitura, o conteúdo é bom embora a escrita e o desenvolvimento dos personagens pudessem estar mais bem conseguidos. É bastante viciante após os momentos iniciais mais aborrecido e certamente irá agradar a leitores que gostem de acção e realidades alternativas. 


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Catching Fire (The Hunger Games #2)


Título: Catching Fire (The Hunger Games Trilogy Volume 2)
Autora: Suzanne Collins
Editora: Scholastic
Versão original em inglês
472 páginas, capa mole

Classificação: *** (3/5)

Neste segundo volume da trilogia acompanhamos o regresso a casa de Peeta e Katniss. O facto de se terem mantido ambos vivos é um acontecimento sem precedentes na história dos Jogos da Fome que também é visto por alguns como acto de rebelião . No entanto não se pode dizer que a vida de ambos  tenha regressado à normalidade, para além das suas obrigações protocolares como vencedores e alterações na sua vida pessoal começam a surgir rumores de uma revolta contra o Capitólio. Surge também a comemoração dos 75 anos dos Jogos havendo por isso uma edição especial com novas regras em que ambos se vêm obrigados a participar.
Este segundo livro tem um começo fraco, não havendo nenhum desenvolvimento importante durante muitas e muitas páginas. O triângulo amoroso continua muito presente mas mesmo nessa vertente não há grandes desenvolvimentos. Apenas quando é anunciada a edição especial dos Jogos começa a haver mais acção e intriga na narrativa. O último terço do livro tem um ritmo elevadíssimo que me deixou agarrada ás páginas até chegar ao final, certos elementos são muitíssimo bem conseguidos e existe bastante acção . O final do livro em si é também muito promissor, torna impossível não avançar para o volume seguinte. 
Katniss continua a mostrar-se uma personagem  forte e com um grande instinto de sobrevivência  e espírito de sacrifício mas tem neste segundo volume alguns momentos de fraqueza e falta de controlo. Peeta torna-se também uma personagem mais interessante e com mais protagonismo na história o que me agradou bastante. Gostaria que a autora pudesse fornecer mais detalhes sobre a história de outros personagens, apesar desta história ser contada na perspectiva de Katniss seria interessante saber mais sobre os outros. 
A linguagem continua não muito complexa, certos aspectos, como a geografia de Panem, poderiam estar mais bem descritos para que o leitor pudesse sentir-se mais dentro da história. 
Irei sem dúvida avançar para o volume final da trilogia motivada pelo final emocionante deste segundo livro. 







segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

The Hunger Games


Título: The Hunger Games (Hunger Games Trilogy Volume 1)
Autor: Suzanne Collins
Editora: Scholastic
Versão original em inglês
454 páginas, capa mole

Classificação: *** (3/5)

Ouvi falar pela primeira vez da trilogia Jogos da Fome aquando da estreia do filme através de alguns canais literários do Youtube. Fui ver o filme ao cinema e confesso que não fiquei impressionada e não percebi todo o entusiasmo criado à volta destes livros. Entretanto foram surgindo no mercado mundial inúmeras séries do mesmo género: distopias para um público jovem/adulto (YA-young adult) tais como Divergent, Maze Runner, Uglies entre outras.
 As únicas distopias que já havia lido tinham sido Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e 1984 de George Orwell, livros pesados e marcantes que não podem ser comparados com esta obra.
No entanto a premissa da história sempre me cativou, sempre achei que seria um argumento bastante original se bem desenvolvido, e resolvi então não ter preconceitos devido ao facto de serem livros direccionados para um público mais jovem e julgar os livros por mim própria.
Neste futuro criado por Suzanne Collins a América do Norte foi destruída dando origem à nação de Panem constituída pelo Capitólio e por doze distritos, anteriormente treze mas o 13º foi destruído durante uma revolta. Esses doze distritos são completamente subjugados por esse Capitólio que para relembrar a todos os cidadãos dos distritos o seu poder e dissuadir novas revoltas organiza anualmente os Jogos da Fome, uma espécie de reality show a que todos são obrigados a assistir, em que uma rapariga e um rapaz entre os 12 e os 18 anos de cada um dos distritos são colocados numa arena para lutar até à morte até que haja apenas um sobrevivente. 
A história é narrada a partir do ponto de vista de Katniss, uma jovem de dezasseis anos do distrito 12 órfã de pai que ajuda a sustentar a sua família caçando ilegalmente nas florestas que rodeiam o seu distrito, ela irá juntamente com Peeta representar o seu distrito nesta edição dos jogos. Esta jovem com um forte instinto de sobrevivência terá que conseguir desenvolver estratégias que lhe permitam manter-se viva ao mesmo tempo que tenta manter-se fiel a si própria. 
Acho que este livro aborda temas muito interessantes e muitos apropriados para o seu público-alvo, a exploração extrema da condição humana como forma de entretenimento, as consequências de regimes políticos totalitários e opressores na população e suas estratégias para manter o poder são temáticas  bastante originais embora tenha vindo a descobrir que o livro Battle Royal de Koushun Takami publicado anteriormente também tem temáticas semelhantes.
No entanto tem uma vertente que achei um pouco fraca e demasiado explorada: o romance e o desenvolvimento de uma espécie de triângulo amoroso, apesar de perceber que esta seria uma maneira de cativar mais o público jovem.
Katniss é uma personagem bastante forte, determinada e com valores morais elevados mas por vezes demasiado ingénua, o que não deixa de ser um pouco contraditório. É interessante notar a preocupação dela e do seu par em não se deixarem dominar pelo instinto de sobrevivência e permanecerem fiéis a si próprios. 
A narrativa tem alguns momentos aborrecidos e descrição de situações que se arrastam demasiado, como por exemplo os eventos que antecedem os Jogos propriamente ditos, mas após o início do concurso a narrativa prossegue a bom ritmo. Não é tão gráfico e violento como se poderia supor, tanto no livro como no filme o romance consegue desviar a atenção das mortes que sucedem. Tem alguns episódios comoventes e emocionantes mas não gostei muito das reviravoltas finais no enredo que a autora pretendeu criar. A linguagem não é muito complexa e é um livro de fácil leitura mesmo na língua original. 
Gostei do livro, não o achei excepcional, mas penso que a trilogia tem aqui uma boa base, ficamos a conhecer o ambiente social e político que se vive e curiosos por saber a repercussão que o resultado desta edição dos Jogos da Fome poderá ter em Panem, uma vez que começam a surgir certos rumores sobre o passado e presente desta nação. Certamente continuarei a ler os volumes seguintes. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Ready Player One



Título: Ready Player One
Autor: Ernest Cline
Editora: Crown Publishers
Versão original em inglês
374 páginas, capa dura

Classificação: **** (4/5)

Qualquer retrogamer irá, certamente, adorar este livro. Mas não é preciso ser apreciador de videojogos para apreciar esta história, qualquer pessoa com algum interesse por pop culture irá certamente deliciar-se com as inúmeras referências a filmes, séries, música e livros dos anos 80. Se termos como Dungeons and Dragons, AC/DC, Star Wars, The Goonies, Monty Python, Back to the Future, Tolkien, Philip K. Dick e Kurt Vonnegut vos são bastante familiares e queridos este livro pode muito bem ser do vosso agrado.
No ano de 2044 o planeta Terra encontra-se devastado, uma forte crise energética tornou o mundo um local miserável, muito pouco agradável para se viver e a maioria das pessoas escapa a essa realidade através do OASIS, um jogo online que cria uma utopia virtual na qual as pessoas podem habitar milhares de mundos. 
James Halliday criador deste videojogo, excêntrico multimilionário obcecado por pop culture, morre sem deixar herdeiros mas deixando uma mensagem vídeo que irá lançar toda a gente numa busca por um easter egg  (uma espécie de mensagem secreta) escondido no OASIS. O primeiro a encontrar será o herdeiro de uma formidável fortuna. 
Wade Watts leva uma existência miserável no mundo real sendo o seu único escape este mundo virtual, por isso junta-se à busca planetária pelo prémio, ele e milhões de pessoas dedicam anos a fio a  estudar a obsessão de Halliday para decifrar os seus enigmas. Depois de anos de progressos nulos nesta busca ele irá decifrar o primeiro enigma e reanimar o concurso, no entanto não está sozinho... Durante a sua demanda pelo prémio irá encontrar inimigos, fazer alianças e encontrar muito mais do que meras pistas.
Este livro é puro entretenimento, uma narrativa cheia de acção com vocabulário típico de videojogos, um clássico bem vs mal, sendo o mal uma corporação maléfica que quer encontrar o easter egg para  privatizar e monetizar o OASIS,  em que se espera que o bem saia vencedor. Não esperem personagens complexas nem grandes artifícios narrativos. Pessoalmente adorei este livro, as personagens, as reviravoltas no enredo e as múltiplas referências pop culture. Raramente encontrei quebras no ritmo do livro ou momentos aborrecidos, acção amizade e até romance fazem deste livro um bom motivo para passar madrugadas a ler. Certamente fará as delícias de qualquer apreciador de ficção científica ou de qualquer leitor mais nostálgico. 



  

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Pela Estrada Fora


Título: Pela Estrada Fora
Autor: Jack Kerouac
Editora: Relógio D'Água
Tradução: Armanda Rodrigues e Margarida Vale de Gato
333 páginas, capa mole

Classificação: *** (3/5)

"Mas nessa altura dançavam pelas ruas fora, quais fantoches febris, e eu trotava atrás deles, como toda a vida fiz no encalço das pessoas que me interessam, porque as únicas pessoas autênticas, para mim, são as loucas, as que estão loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, as que não bocejam nem dizem nenhum lugar-comum, mas ardem, ardem, ardem como fabulosas grinaldas amarelas de fogo-de-artifício a explodir, semelhantes a aranhas, através das estrelas e, no meio, vê-se o clarão azul a estourar e toda a gente exclama: "Aaaah!""
Pela Estrada Fora, Jack Kerouac

"Pela Estrada Fora" é considerado por inúmeros especialistas como um dos mais importantes de sempre, devido à sua influência em toda uma geração de jovens, a geração beat nascida nos Estados Unidos da América nas década de 50/60. 
Este é um livro de forte inspiração autobiográfica em que, utilizando uma técnica narrativa própria, que o próprio Jack Kerouac apelidou de prosa espontânea, constituída por enormes blocos de texto, o autor descreve as viagens de Sal Paradise (o próprio Kerouac) e Dean Moriaty pelos Estados Unidos da América e pelo México. 
Viagens frenéticas à boleia, festas, álcool, café, tabaco, drogas, sexo e jazz são a vida e a obsessão do carismático Dean Moriaty que fascina o escritor Sal Paradise levando-o a embarcar em alucinantes jornadas através do país em busca de liberdade e "daquilo", algo que não conseguem definir nem compreender mas que procuram incessantemente. 
Devo dizer que ao contrário de gerações e gerações de pessoas não fiquei inspirada a viajar de mochila ás costas por esta história, a falta de escrúpulos e de consideração de certos personagens desagradaram-me, a repetição dos mesmo acontecimentos mas em locais diferentes e os longos blocos de texto corrido cansaram-me um pouco. No entanto reconheço a beleza da descrição de certos locais e a maneira fiel como descreve a mente desta geração beat na incessante busca de liberdade.
Recomendaria este livro a pessoas de espírito aventureiro fascinadas por viagens sem rota definida. 
Esta obra foi adaptada ao cinema em 2012 pelo realizador Walter Sales. 



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nas Montanhas Da Loucura


Título: Nas Montanhas da Loucura
Autor: H.P.Lovecraft
Editora: Saída de Emergência
Tradução: Sérgio Gonçalves
236 páginas, edição de bolso

Classificação: *** (3/5)

Conheci Lovecraft através dos seus contos de horror publicados pela Saída de Emergência e tornei-me admiradora da sua mitologia extraterrestre muito própria e do seu método único de fazer aumentar a tensão sem saber exactamente porquê, provocando o chamado medo do desconhecido.
Nesta novela, um pouco mais longa do que os seus contos, um geólogo relata uma expedição à Antárctida de modo a tentar dissuadir uma futura expedição. Nessa expedição aconteceram fenómenos aterradores que levaram os sobreviventes ao limite da loucura... Recomendo que futuros leitores deste livro  não leiam a sinopse, iria estragar a surpresa e o efeito do livro... 
Gostei desta história embora a tenha achado um pouco descritiva demais, o narrador descreve certos aspectos várias vezes . O suspense foi aumentando à medida que prosseguia na narrativa mas achei que o final, o clímax da história, deixou um pouco a desejar. O facto de ter lido a sinopse que se encontra na contracapa também estragou um pouco o suspense. 
De qualquer maneira recomendo a leitura a apreciadores deste género literário (e espero que tenham um estômago forte). 


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Agatha Christie - Autobiografia


Título:Agatha Christie-Autobiografia
Autor: Agatha Christie
Editora: Asa
Tradução: Elsa T.S.Vieira
704 páginas, capa dura

Classificação: ***** (5/5)

Não tenho por hábito ler livros de não ficção, aventurei-me neste devido à minha admiração de longa data pela escritora e pelo preço convidativo do livro, confesso que foi uma agradável surpresa.
Ao longo desta extensa, mas nunca maçadora, obra a "Dama do Crime" leva-nos a passear pelas suas memórias numa prosa fácil de ler e em tom de conversa com o leitor.
Agatha Christie começou a escrever estas memórias em 1950 no Iraque tendo concluído cerca de quinze anos depois.
Nascida em 1890 começa por narrar a sua infância feliz em Ashfield, as suas brincadeiras de faz-de-conta, notando-se já desde pequena uma personalidade muito imaginativa. Acompanhamos o seu crescimento, as primeiras experiências amorosas e o primeiro casamento. Agatha Christie é uma dama da sua época, dando muita importância ao casamento e à importância deste na construção da vida de uma mulher. Tornou-se enfermeira voluntária durante a Primeira Guerra Mundial tendo trabalhado na farmácia de um hospital, uma experiência que seria muito útil na construção dos enredos dos seus livros. 
Começa a escrever policiais como que desafiada pela sua irmã, considerada pela família como tendo uma maior vocação literária. Acompanhamos a construção subsequente dos seus míticos personagens Poirot e Miss Marple, dos seus livros e adaptações ao mesmo tempo que vamos avançando nas suas memórias. Depois de passar por um período negro, com a morte de entes queridos e o final do seu primeiro casamento e já com uma filha decide viajar sozinha, embarcando no famosíssimo Expresso Oriente. É no Oriente que conhece aquele que viria a ser o seu segundo marido, o arqueólogo Max Malone que vem a acompanhar em várias expedições arqueológicas. O Mundo atravessa de novo uma grande guerra e a autora torna-se avó, as adaptações das suas obras tornam-se fenómenos de sucesso. 
Esta autobiografia dá-nos um retrato de uma mulher modesta, escrever nunca foi a parte mais importante da sua existência, aliás começou por considerar os seus livros como meras fontes de rendimento extra para obter o que desejava, um dos seus passatempos era escolher e adquirir casas e adorava também o seu carro. Percebemos que nem sempre teve uma vida privilegiada, tendo sofrido desgostos pessoais e algumas complicações financeiras. 
É realmente curioso perceber que embora os seus livros sejam muito conhecidos a nível mundial a sua autora sempre esteve envolvida em mistério, não propositadamente mas devido à sua timidez, esta biografia permite-nos conhecer melhor a vida recheada desta formidável autora. Faleceu em 1976, tendo a sua autobiografia sido publicada postumamente tal como tinha desejado. 
Sou uma grande admiradora dos seus policiais e como tal adorei conhecer a sua vida da forma como o fez, contando o que queria contar de uma forma tão lúcida e confessional. Recomendo vivamente a leitura desta autobiografia, especialmente a apreciadores dos seus livros.

Sinopse: Agatha Christie ficará para sempre conhecida como a Rainha do Crime. Publicada em todo o mundo, os seus livros estão traduzidos para mais de cem línguas e venderam já mais de dois mil milhões de exemplares. Um sucesso à escala planetária, ao qual a autora contrapôs uma vida pessoal envolta em mistério. Mas, embora se tivesse mantido afastada das luzes da ribalta, escreveu secretamente uma autobiografia. Publicada apenas após a sua morte, revelou-se tão fascinante que foi imediatamente considerada a sua melhor obra! Com rara paixão e audácia, Agatha Christie fala-nos sobre a sua infância no final do século XIX, as duas guerras mundiais que testemunhou, os dois casamentos e as experiências como escritora e entusiasta de viagens e expedições arqueológicas, em que participava ativamente com o segundo marido. Uma obra que revela a faca humana e surpreendentemente extravagante por detrás da mais lendária escritora do século XX.