Título: Blankets
Autor: Craig Thompson
Editora: Devir/ Biblioteca de Alice
592 páginas, capa dura
Classificação: ***** (5/5)
Diálogos, silêncios, padrões e ilustrações a preto e branco conseguem compor esta história de descoberta e crescimento.
Esta é uma graphic novel de inspiração autobiográfica que relata episódios da infância e adolescência de Craig: a sua relação com o irmão, com os país católicos fervorosos, com a fé, a necessidade de evasão e o seu primeiro amor e a criação de uma identidade própria.
Acompanhamos Craig numa viagem desde os seus tempos de criança e à partilha da cama com o seu irmão Phill até à entrada na idade adulta. Pelo meio as inseguranças, dúvidas, emoções, conflitos e descobertas do processo de se tornar adulto contadas com uma certa melancolia e muita sensibilidade e delicadeza. Talvez a facilidade de o leitor se identificar com as emoções vividas por Craig torne a leitura tão envolvente, mesmo que não tenhamos sido educados da mesma forma que ele e vivido as mesmas experiências, certas emoções são universais.
Para mim um dos principais temas do livro é a relação de Craig com a religião, os conflitos vividos entre a fé fervorosa dos seus pais e de quem o rodeia e a sua própria fé, ou falta dela, a necessidade de questionar e os ensinamentos com que foi criado e os sentimentos de culpa e dúvida que o atormentam. Surge desde cedo a necessidade de evasão, o prazer de ultrapassar os seus limites através do desenho que Craig começa por negar a si próprio.
Outro é a descoberta do amor. Craig conhece Raina num acampamento católico e o seu amor é correspondido, o tímido e solitário rapaz conhece a descontraída e maternal rapariga apaixonam-se. Surgem as primeiras descobertas, dúvidas e desejos. Raina lida com uma série de problemas pessoais que também influenciam o desenvolvimento da relação de ambos. Os momentos com Raina dominam a maior parte do livro e são plenos de emoção, inocência e delicadeza.
É ela, sua musa, que oferece a Craig uma manta de retalhos que fez, que para mim simboliza de certa forma a vida e a construção de uma identidade, todos os diferentes pedaços de tecido diferentes são as pessoas, sentimentos e vivências que constroem uma identidade.
O final é um pouco agridoce mas apesar de tudo necessário e promissor.
Adorei a construção da história, a maneira como os desenhos conseguem transmitir tão bem sentimentos complexos e muito pessoais sem serem sequer necessárias palavras sendo ao mesmo tempo tão bonitos de observar. É um livro de uma extrema sensibilidade, que apela ao sentimento e que nos atinge de forma pessoal pela sua delicadeza, honestidade e beleza. Recomendo a qualquer pessoa que não tenha um bloco de gelo no lugar do coração.
Blankets, Craig Thompson
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